Blog do Delemon

ULTIMA HOMINIS FELICITAS EST IN CONTEMPLATIONE VERITATIS

Pilulas de sabedoria



Esta é uma republicação adaptada de artigo homônimo em 14 de Junho de 2009 para o Lado B de um Disco Trash. Por esta ser uma republicação adaptada, talvez eu tenha optado por retirar ou alterar uma parte do texto original, em caso de acréscimo, o fiz por meio de uma fonte diferente do corpo do texto geral.


Por: Érick Delemon

Já aviso que não vim arrotar sobre a crise tanto tempo depois de seu início e tanto tempo antes de se chegar a um consenso de seu fim. Ao contrário, vim mostrar um outro lado. O lado que não é visto na Universidade, e já nem mais na mídia, somente em alguns pontos específicos na Internet, redutos firmes e pontuais em suas críticas, com opiniões e análises muito, mas muito diferente da que tomei contato nas minhas aulas de Sociologia, Filosofia e História no Ensino Médio, e mais ainda dos grupos de estudantes da Universidade. Dentre essas visões que podem parecer incomuns é a de que essa tal crise é culpa justamente do Estado. Esse ente gigantesco que hoje “socorre” empresas acusadas de irresponsabilidade, é colocado sob a luz de culpado pela crise: “criada pela própria interferência do Estado na economia e nas finanças, ao manipular taxas de juros e o mercado de crédito.[1]

 FinancialCrisisDollar 

De acordo com o prisma liberal a economia é solapada pelo controle estatal há pelo menos um século. Logo, falar em Estado Capitalista como meio para criticá-lo é tolice e no mínimo um artifício de argumentação que não toma base nenhuma na realidade. Por liberal devemos entender que falo da ótica do Liberalismo econômico, e não o liberal que se tem em mente na acepção que foi se consolidando nos EUA como forma justamente de esquerdismo ao se referir a um comportamento mais “flexível” e aberto a mudanças. Assim, essa crise é efeito tardio de uma causa de raizes socialistas – ou pelo menos – esquerdistas.

Uma crítica que a direita faz por exemplo, é o fato de se alardear que a crise não foi tão arrebatadora no Brasil devido à solidez de nossa economia! Eles rebatem dizendo: [2]

[…] não há tanta atividade econômica assim, especialmente a de crédito. Mais da metade da economia nacional é informal. O volume de crédito em todo o País, é de cerca de 40% do PIB, já que todo o resto restringe-se aos papéis do governo – títulos de divida pública, que financiam os bancos. As exportações são baseadas em commodities, especialmente no setor agrícola, e, convenhamos, comida continua a ser necessidade do dia a dia.

Mais: na contramão de tudo o que a mídia noticia falam – numa crítica ferrenha ao governo e seu posto maior – sobre a intervenção estatal: [3]

[...] a crise não desencadeou a leitura de que o mercado precisa do estado, mas sim justamente o contrário: é o estado quem precisa do mercado, e ainda mais neste momento de crise!

Desde que a marola atingiu o Brasil, a arrecadação tributária vem continuamente caindo. Aí já se comprova liminarmente quem é que precisa de quem. Pois, ao ver o seu cofre minguando a cada mês, o que tem feito o governo para reverter a situação? Ora, ciente de que estrangulava a vaca que lhe fornecia o leite, acena com seqüenciais cortes de impostos sobre a produção, ao mesmo tempo em que camufla suas ações com a cortina de tinta preta (coisa de molusco) bradando fingidamente ajudar àqueles a quem na verdade sugava-lhes as forças. Pois, desde quando desonerar impostos é ajudar ou fazer alguma coisa? Diminuir tributos, é sim, um não-fazer, é deixar de extorquir, é abster-se de expropriar!

Dando o golpe final:

Então, se a solução para a crise é diminuir impostos, porque já não vinha o estado o fazendo antes da crise, como forma de propiciar o crescimento da poupança e o desenvolvimento da nação e gerando com isto mais empregos? Claro, isto significaria uma vez mais admitir que é o mercado que tem prosperidade a oferecer à nação, e não o estado!

Lembro a vocês até que esse autor utiliza Estado com “e” minúsculo pois “O estado não é uma entidade sagrada e nem é nome próprio, logo não merece a inicial maiúscula.Os impostos na grande mídia são taxados por serem abusivos e quando o governo os reduz, a notícia é recebida com festa. Para os liberais os impostos são uma forma de regulagem do mercado pelo Estado, uma contenção da livre iniciativa. E para o conservador/liberal, o fato de se tolher a liberdade para que o Estado diga qual a melhor ora de consumir esse ou aquele produto é característica de regimes socialistas, mesmo que o Estado não precise fazer uma propaganda para determinar o consumo: age mediante diminuição de uma ou outra taxação. Daí se percebe todo um discurso ausente de qualquer forma midiática.

crise Por que será essa ausência? Estranho é pensar que esse é o discurso Liberal, o discurso dos temidos capitalistas que – segundo “aprende-se” à exaustão – são os líderes da globalização, os dominadores do mundo, os 10% que comandam todos os rumos da economia mundial. Será?! Se é esse o discurso hoje da “classe dominante” porque não estão eles no comando dos jornais e meios de comunicação? Não é o que se traduz na realidade.

A mim não é porque desde que entrei na oitava série não havia sequer um ano em que o tema globalização tivesse uma atenção trimestal das aulas, e sempre nos era apresentado um panorama em que tudo que essa louca globalização fez foi em prol do Capitalismo (enquanto sistema econômico) e (enquanto sua ideologia) o neo-liberalismo. E especialmente porque o neo-liberalismo é tão mais abominado pelos liberais do que pelos próprios esquerdistas, comunistas, sociais-democratas, e afins.

Pois bem que isso é só a ponta do iceberg da argumentação liberal/conservadora contra os abusos do Estado sobre economia. Tentei jogar aqui alguns conceitos principais (a meu ver) para a desconstrução do que está posto pela mídia e senso comum. Para mais, peço urgentemente que leiam o artigo do Rodrigo Constantino: A Crise Vista por um prisma liberal, que retrata a visão de quem está de dentro, de quem sabe exatamente o que é Liberalismo, equanto eu somente recentemente tomei contato com essa retórica e lógica, ante anos (ainda correntes) de imáginário estudantil.

 

Por enquanto, fico por aqui, e perdão pelo post esteticamente longo, mas que em conteúdo é somente um arranhão. Espero em breve trabalhar mais o assunto. Até!

 

Notas_headsection 

  1. Instituto Federalista no Mídia sem Máscara: Os Afundamentos Econômicos
  2. idem
  3. Klauber Cristofen Pires no Mídia sem Máscara: Sobre Bravatas, a Igualdade e a Liberdade

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